Um barco com 1.800 pessoas que fugiram dos ataques terroristas em Palma, norte de Moçambique, estava ao largo de Pemba pela manhã deste domingo, 28 de Março, disse à agência de notícias Lusa uma fonte que acompanhou as operações.
Segundo a mesma fonte, a embarcação partiu no sábado (27.03) de Afungi com destino ao porto de Pemba, tendo chegado ao largo da capital provincial de Cabo Delgado na manhã deste domingo (28.03). O secretário de Estado em Cabo Delgado, Armindo Ngunga, confirmou à agência de notícias DPA a chegada do navio ao porto de Pemba.
Segundo a DPA, cerca de 1.000 trabalhadores do projeto de gás natural da região, liderado pela empresa francesa Total, foram evacuados nesta embarcação.
No porto de Pemba, registava-se uma concentração de familiares das pessoas que viajaram no barco. Destas, cerca de 200 expatriados de várias nacionalidades refugiaram-se no hotel Amarula, em Palma, desde quarta-feira (24.03) à tarde, quando o ataque armado à vila começou.
Na quinta-feira (25.03), começaram operações de resgate do hotel para dentro do recinto protegido da petrolífera Total, a seis quilómetros, acções que continuaram na sexta-feira (26.03), quando uma das caravanas foi atacada, disse à Lusa uma fonte que acompanhou as operações.
Nesta operação, um cidadão sul-africano foi morto, informação confirmada à agência de notícias AFP por uma fonte do Governo sul-africano em Joanesburgo, e um português ficou gravemente ferido, confirmou no sábado (27.03) o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal.
Na altura foram reportadas sete mortes, mas a mesma fonte disse, este domingo (28.03) à agência de notícias Lusa, que o número de vítimas é ainda incerto.
África do sul reforça diplomacia
Entre as vítimas dos ataques havia vários sul-africanos, o que levou a África do Sul a reforçar a sua missão diplomática em Moçambique, anunciou o Governo sul-africano no sábado.
“A missão diplomática em Moçambique está a ser reforçada com pessoal adicional a fim de realizar o trabalho de localização, identificação e resposta às respectivas necessidades dos afectados”, disse em comunicado o Ministério da Cooperação e Relações Internacionais sul-africano.
O comunicado não especifica o número de vítimas sul-africanas afectadas no ataque. Refere apenas que a África do Sul, através da sua missão diplomática em Maputo, “está a trabalhar com as autoridades locais na verificação, bem como na prestação dos serviços consulares necessários”.
“A África do Sul está pronta para trabalhar com o Governo de Moçambique na busca de uma paz e estabilidade duradouras”, conclui o comunicado do Governo sul-africano.
O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, reuniu-se com altos responsáveis da Defesa devido ao ataque no norte de Moçambique, noticiou a televisão estatal.
A Força Nacional de Defesa da África do Sul (SANDF, na sigla em inglês) está a considerar o destacamento de forças especiais para ajudar a conter a situação de guerra no norte do país vizinho, referiu por seu lado uma fonte da segurança ao portal sul-africano News24, também no sábado.
Famílias desesperadas
A mãe de um jovem sul-africano, de 21 anos desaparecido após o ataque dos insurgentes na vila de Palma, em Cabo Delgado, norte do país, disse no sábado que vários sul-africanos morreram na violência armada na região desde quarta-feira.
“Há vários expatriados desaparecidos, os terroristas entraram na vila altamente armados com bombas e equipamento militar”, disse à televisão pública SABC, da África do Sul, sem revelar a sua identidade.
Acrescentou ainda que, “outros sul-africanos perderam a vida numa emboscada ontem à noite, a situação é terrível, é uma zona de guerra, é traumático”.
Segundo o mesmo relato, “há umas centenas” de sul-africanos a trabalhar nos projetos de gás na região de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, e “não houve assistência de nenhum Governo aos expatriados retidos”.
“O meu filho continua desaparecido na zona de guerra, é um jovem, sem experiência militar ou de combate em zonas de guerra e é aterrador não sabemos o seu paradeiro, se está vivo ou se foi raptado porque ninguém ainda nos informou sobre o seu paradeiro e o que aconteceu”, referiu.
“A imprensa está a acompanhar os acontecimentos, os americanos condenaram o ataque e dizem-me que a Legião Francesa [forças especiais francesas] está também a caminho [de Moçambique], mas o Governo sul-africano continua em reuniões, há três dias que não sabemos de nada e nem sequer temos ideia do número de afetados”, declarou.